10 de agosto de 2013

A Morte

De onde eu estava eu a vi chorando. Chorava como se seus pecados maiores não fossem dignos de perdão, como se os pecados menores fossem crimes capitais. Ela enterrou a cabeça no sofá da sala, de luz apagada e ouviu o silêncio. O mundo as vezes é uma mentira, ela sabe disso, e as pessoas as vezes são feitas de papel. Não. Papel é muito nobre, é no papel que ela enxuga aquelas lágrimas, é no papel que ela escreve seus poemas idiotas. Gente não é como papel, gente as vezes é como faz de conta, como nuvem etérea, como encanto que acaba, pesadelo e presunção. E alí no escuro ela começou a pensar que a vida dela não era nada daquilo que ela gostava. É um amontoado de coisas que ela nunca escolheu, e ela não gosta do que vê no espelho. Grandes olhos marrons preocupantes cheios de lágrimas. Ela me pediu pra aparecer, ela me fez um convite, mas eu não sou debochada, quando a morte conta uma história, você deve parar pra ouvir. A mulher continuou sentada no sofá, juro que pela primeira vez vi lágrimas descendo com espontaneidade, pra um ser humano, ela chorou com categoria. Nem parecia que ela queria desabar. Mas ela aguentou tudo tão firme. Foi tão corajosa tbm nobre. Enfrentou tempestades, sorriu pro desespero. Mas respeitou a morte. Não me culpou, nem a Deus. Ela apenas chorou. Chorou os espinhos na alma como se as lanças cravadas no peito fossem pequenos encomodos que ela carregasse com prazer. Ela não pode gostar de flores, não foi isso que teve na vida. Não teve também muitos alentos, consolos, amores. Aprendeu a secar o próprio rosto chorado. Teve suas fibras esticadas até o limite e suportou tudo, sem nunca antes de tudo doar seu coração, seu melhor a quem lhe bateu. Diante disso... Como não posso sentir admiração?
[inspirado no livro: A menina que roubava livros. Do qual só li 37 páginas por falta de tempo, e razões literárias pessoais.]

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