30 de outubro de 2014

O Fada da Questão

Sabe qual é o fada (troque o "a" pelo "o"), de sermos nós mesmos? É que nós sabemos quem somos, mas os outros não. Se eu estou sempre sorrindo, as pessoas esperam o quê? "Poxa, eu estou triste, vou conversar com a Juliane. Ela está sempre sorrindo." Eu ouvi uma coisa assim ontem: "Você está triste, todos nós ficamos tristes! Tá todo mundo olhando pra você e esperando''. Era só mau humor, tempo muito cinza, muito fechado e muito frio, mexe com meu psicológico. Qual é o problema em não estar mais suportando o inverno? Tem pessoas que passam a vida inteira mantendo uma droga de sorriso idiota, só porque não sabem expressar a droga das suas emoções na hora do que não suportam mais alguma coisa. E passam a sua existência pensando o que poderia acontecer se tivessem dito ao menos uma vez um: "droga me deixa quieto!". As pessoas têm que ter a decência de serem verdadeiras, se não com o mundo, com elas mesmasmeu Deus do céu! É o mínimo. Acontece que ninguém sabe separar, verdade de indelicadeza, nem mau humor de grosseria. As pessoas preferem que você mantenha o sorriso idiota. Assim elas não precisam se preocupar com as próprias verdades também! E vamos todos vivendo no mundo cor de rosa que projetamos pro resto da humanidade nos achar bacanas. As pessoas dizem: "estou feliz" com uma facilidade tão grande. Mas sabe porque elas não estão? Porque elas gastam a vida pagando faturas de cartões de crédito, pagando coisas que trouxeram felicidade, mas que assim como um limite de uma conta, essas coisas também acabaram. Então elas percebem que comprar apenas, não adianta. Elas têm que possuir. Então elas procuram corpos com mesmo sorriso mecânico e possuem esses corpos por uma noite, casam- se e se separam- see a felicidade ainda fica parecendo o limite do cartão de crédito. Então há o trabalho, elas começam a se afundar no trabalho como se a felicidade fosse nada mais do que poder pagar a fatura do maldito cartão de crédito e a bendita pensão por causa do divórcio. E quer saber mesmo o pior? Ninguém nunca vai perguntar se está mesmo tudo em "riba", por que a bendita pessoa se trancou dentro dela e vive sorrindo como se a vida fosse apenas um: " trás mais um gole de whisky garçom", tão simples e vicioso quanto parece. Então, o que eu tenho a dizer, é que eu acho muito saudável ficar mau humorada, e eu sei que a humanidade não estará confortável  com isso, mas acontece que na verdade, é um direito meu estar mau humorada sem que eu tenha realmente um problema pessoal com alguém. Estar de mau humor nem sempre quer dizer que você tem um problema com alguém. Mas sorrir pra tudo... também não dá. E além do mais, imaginem, se eu escondo o mau humor, o que mais eu não escondo? Amor? Verdade? Mentira? Ódio? Tenho um pouco de medo de pessoas que parecem muito perfeitas, felizes demais. Enfim, um mau humor bem curado, inclui amigos de verdade com um gole de café e quem sabe uma piada clichê. É assim que se cura. E se você tem um problema, resolva. E se o problema for com alguém, tenha a decência de dizer pra essa pessoa. Sabe porquê?! Porque ninguém nos merece pela metade. Se não for pra ser inteiro, não seja de jeito nenhum. Faz parte da nossa humanidade ficar de mau humor umas 15 vezes na vida. O que não faz parte é ver a vida passar, a sua própria e a de quem você compartilha, como um mero expectador com um detestável sorriso idiota.  

17 de outubro de 2014

Aquela sensação.

Chovia lá fora. Ela tinha um livro nas mãos mas olhava as gotas no vidro da janela e sorria levemente. O sofá da sala, bem grande, os comportava muito bem. Ele estava deitado do outro lado do sofá e lia o jornal, página de esportes, página de economia, página de atualidades. Era chuva de verão, algumas trovoadas e o vento balançava as pequenas flores do jardim. Ela olhava o jardim e tinha aquele sorriso nos lábios. Seu marido abaixou o jornal por dois segundos e contemplou aquele vago sorriso. Ela estava perdida em algum pensamento. Ele sabia disso por que quando ela sonhava ela fechava os olhos. Ele pensou que nunca encontraria alguém pra partilhar a vida. Já tinha procurado tanto que um dia desistiu. E nesse dia ela o encontrou. E ele sabe que também foi assim pra ela. Tantos caminhos cruzados e um dia o deles se uniu. Foi numa manhã de verão. Ela estava correndo, como ele lembrava, entrou na padaria, deu bom dia, nem olhou pros lados, nem pediu café, a atendente já sabia o que ela queria, encheu o copo e então ela desviou o olhar e procurou por açúcar. Essa foi a deixa. Ele lhe passou o açúcar e ficou paralisado. Ela sorriu. E tudo ficou claro com aquela sensação de já a ter conhecido de outra vida, daquela vida, pra vida inteira, ou seja o que for. E seja lá o que for, namoram, noivaram e casaram. E ali estavam, compartilhando o sofá novo que haviam escolhido depois de muito discutir. E ela ainda sorria olhando a janela e a chuva. Ela fechou os olhos e se deliciou com a curiosidade do marido que a olhava. Ele não desconfiava que em breve suas vidas mudariam. Ela voltou o rosto pra ele e sorriu como da primeira vez. E compartilharam aquela mesma sensação de vida toda. Ela largou o livro e se aninhou em seu marido, ele colocou o jornal de lado.

- O quê você tanto sorria pra janela? Com o quê estava sonhando, hein?!
- Sabe querido, aquela sensação que preenche a gente, quando a gente sabe que as vezes fomos muito recompensados pela vida?
Ele a abraçou mais forte.
- E sei.
-Então, sabe aquele balanço que planejamos colocar no jardim?
Ele a olhou surpreso, o coração disparou. Não teve palavras. Ficou paralisado como da primeira vez em que ela lhe sorriu.
- Querido, respire.- Ele soltou o ar, com os olhos marejados.
- Mesmo com chuva, olha ali o jardim, acho que o balanço ficaria ótimo ali. Assim nosso filho vai crescer e vamos poder olhar ele do nosso canto preferido da casa.
Com o coração ainda remexido, e aquela sensação de vida completa, foi a vez dele fechar os olhos e sonhar. Colocou a mão na barriga da esposa, fechou os olhos e ficaram ali, compartilhando a vida que escolheram.

Moral da história? A vida é uma constante escolha, e uma constante construção. Não importa de onde, como ou por quê, nunca deixe de amar e de sonhar. Se dê a chance, dê a chance, caminhe mais uma milha. Eu ouvi uma pessoa dizer o seguinte: O mal sem causa, não tem efeito. E o bem empenhado sempre nos retorna. Deixe o seu coração livre para esse tipo de sensação.