28 de fevereiro de 2015

Quando queima


Difícil dizer as coisas que estão dentro de mim. E isso sempre foi uma coisa fácil de ser feita. Bem, tudo tem um começo, e eu vou começar com uma das duas músicas que têm me acompanhado nessa jornada, a do querido exagerado, Cazuza, só uma estrofe:"você sonhava acordada um jeito de não sentir dor, prendia o choro e aguava o bom do amor." Os últimos quatro meses tem sido assim. Eu ando aguando só o bom da vida, porque descobri que ela é mais preciosa do que eu imaginava. Então:

"Nos dias anteriores eu tinha passado mal e naquele dia em específico, eu me sentia muito mal, tinha marcado uma consulta, por minha conta, e minha mãe me acompanhou. O médico me examinou. Fez cara de poucos amigos, e fez um discurso como se fosse meu melhor amigo. Pegou minha mão e disse: seja pro que for, mantenha a fé. E me passou uma bateria de exames. Saindo do consultório, eu chorei. E por que não? Estava me sentindo mal. Não é capricho chorar se você tem um mal te pressionando. Você não precisa ser forte e frio o tempo todo. Bem, isso foi em 23 de dezembro de 2014, dia da primeira ultrassonografia, aniversário da minha vó, e eu tinha trabalhado, estava realmente cansada, naquele dia eu trabalhei até as 20h, quase nem aproveitei a festa da minha velhinha, lá em casa a gente faz festa, sabe? Pra tudo. Mas naquele dia, segundo me disse a Tia Ana, eu tinha medo nos olhos e parecia pedir em silêncio pra alguém me abraçar forte e me colocar num lugar sossegado, e era exatamente o que eu queria. Os dias correram. O primeiro diagnóstico foi a tireóide. O segundo, só um quisto. Nesse dia, eu e meu pai saímos pra comemorar! Só um quisto!! Cirurgia resolveria e eu ficaria boa. Marcamos com o cirurgião. Ele olhou os exames, me examinou. Disse que talvez não fosse caso pra cirurgia, que tão pouco era tireóide ou um quisto, mas que provavelmente fosse uma doença do sangue. Eu não consigo descrever o que senti, por que acho que não senti nada, ele não estava sorrindo e eu não estava entendendo. Ele me encaminhou pra pra uma santa da hematologia, dedicação seria pouco pra descrever o que essa médica tem feito por mim. Desde então, já passei por três exames de sangue, vou para o quarto essa semana, uma tomografia, uma biópsia, que pra mim foi a pior parte. Anestesia local na axila esquerda pra retirar dois gânglios. Sabe, eu choro no meu canto quando estou me sentindo muito fraca ou com muita dor no corpo, ou quando penso mais do que meu cérebro permite. Mas nesse dia em específico eu estava cansada, cansada das agulhas e dos exames, sei que existem pessoas em situações piores e assim como oro por mim mesma, peço por eles, mas, bem, foi tudo nessa quinta, e  não tinha dormido bem, e as vezes posso ficar três ou quatro dias sem dormir e foi o caso. Estava cansada da maratona de exames, de ter que conciliar isso com meu trabalho (que realmente adoro), de combinar isso com a minha casa, por que se você mora sozinho você precisa manter a ordem, estava por fim, cansada na mente e no coração. Magoada por me sentir doente, quando sempre me cuidei, sempre me alimentei bem, sempre fiz minhas caminhadas, as vezes corria, sempre fui legal com todo mundo, e estava de saco cheio da pressão que é estar doente. A primeira pergunta que te fazem quando te vêem pálida e sabem que você também tem anemia é:"Você se alimenta bem? Você bebe bastante água?", não preciso dizer que isso cansa. Nessa quinta feira que passou então, não foi legal acordar, não gostei de mim quando me olhei no espelho, gostei menos ainda quando tive que escolher uma roupa pra colocar, justamente por ter perdido 10kg ao longo desses quatro meses. Então eu chorei. Chorei de medo, chorei magoada, chorei enquanto entrava no carro com meus pais e chorei ao entrar no hospital. Chorei porque eu, embora esteja tomando um remédio que é um combinado de ferro e vitaminas, isso na verdade não me torna de ferro. Bem nesse dia, o acidente na serra atrasou o médico que ia fazer a biópsia. Bem no meu dia, bem na minha vez. Minha médica pegou minha mão e disse pra eu aguentar:"vamos fazer isso hoje! Nem que eu tenha que arrumar outro cirurgião!" E ela arrumou. E também me deu remédio pra febre. Nos momentos seguintes, três médicos se apresentaram pra mim, todos com um sorriso confiante e muita cortesia. Não há muito que eu possa dizer sobre o que me passou na mente. Estava nervosa quando me chamaram pra sala de cirurgia, minha mãe me acompanhou, troquei de roupa, coloquei um daqueles jalecos que aparecem a bunda, é, fiquei segurando atrás, tá pensando o quê?! Touca, sapatilha e dez minutos depois o médico me chamou, aí minha cabeça resolveu pensar em tudo que podia e não podia, o médico falando comigo e cadê a Juliane? Eu não consegui parecer simpática e não consegui parecer corajosa, acho que meus olhos ficaram muito arregalados de medo. E quando você deita na mesa de cirurgia, tem aquelas luzes gigantes, e todos aqueles instrumentos, e as pessoas falando coisas que só os médicos e enfermeiros entendem. Não vou esquecer o médico dizendo: "Juliane, Tudo tranquilo? Vou te avisar quando for doer e vou falando com você durante todo tempo. Vai ficar tudo bem." Anestesia local. Bisturi frio(?), tesoura(?), mexe daqui, mexe dali, corta um, a enfermeira me pergunta se estou sentindo dor, uma lágrima desce,"não, dor não, só incômodo". Ela queria papo, eu não consegui (ela queria papo? Estão com o dedo dentro do meu sovaco? E ela queria conversar!). Ela disse, você está fazendo tantas caras e bocas, eu respondi que era por que nunca tinha imaginado passar por isso. O médico disse que já estava acabando, ele cantou uma música romântica enquanto dava os pontos e disse que tinha ficado lindo. Nossa! Legal, tenho um "corte" lindo, já era de se esperar, já que também sou linda. Quando me levantei da mesa, rápido demais, o enfermeiro quase me bateu,"ei moça, vamos devagar!! Doutor, ela tá mexendo o braço!!". Lógico que não podia! Descobri que não poderei pelos próximos 13 dias. Quando fui me trocar, descobri que uma amiga estava me conduzindo pelo corredor: "Você tá bem?!". E eu estava desnorteada."Eu estou com fome, mas to bem". E ela respondeu quase ofendida me fazendo olhar pra ela:" Ô Ju!!?", eu olhei e disse: "É tu!!", sorrimos, e eu branca feito folha de papel, suando, e querendo só um misto quente ou um feijão, que fosse. Quase desmaiei trocando de roupa e pensei por fim, que não tinha sido uma boa ideia fazer uma biópsia, (como se eu tivesse alguma escolha). O que posso dizer pra vocês é que no final do dia, eu só queria chorar de novo. Primeiro porque continuava cansada, de cabeça cheia e preocupada em como isso vai afetar minha vida. Estou por fim há 15 dias do diagnóstico real. Minha família está comigo, eles oram e rezam, meus amigos estão preocupados, eles também rezam e oram, e embora tudo tenha sido doloroso até aqui, eu vou ficar feliz quando o diagnóstico chegar, por que depois de quatro meses alguém vai me dar um "remédio". Não é o que eu devo esperar? Não é o que se diz por aí? Que o melhor ainda está por vir? Diz minha mãe que eu tenho que ficar boa logo e arrumar um marido, e dar logo um neto pra ela. E talvez, você, ao ler esse texto, pense que o escrevi pra ter a solidariedade ou algo do tipo, não. Sempre escrevi meus textos sobre mim, sobre o que penso, não pra me colocar em voga, mas pra mudar um pensamento de alguém, pra mostrar que ninguém é perfeito, pra mostrar coisas que que talvez pudessem dar uma luz pro problema de outra pessoa. E esse texto não é diferente. Meu coração estava queimando por dentro. E refleti durante semanas inteiras se eu deveria realmente fazer isso. E hoje decidi que faria e fiz. Fiz pra dizer que embora muitas vezes fraca e cansada, eu continuei com a minha rotina, e embora querendo chorar, eu chorei mesmo, mas também ando sorrindo, porque não sou de ferro. Uma limitação, não é um limite. Uma dor não é pra sempre. Uma incisão na axila, pode até ser como uma incisão na alma, mas tudo passa. Todos passamos por dificuldades e todos temos nosso próprio destino, nossa cruz pra carregar. Mas se mantermos os olhos no céu, vamos descobrir que embora haja nuvens, as estrelas nunca deixaram de brilhar e que o melhor está por vir... e eu estou esperando de joelhos. Descobri que ser forte e ter força, são coisas totalmente diferentes. E que estar fraca nem sempre é sinal de fraqueza. E descobri que quando o espírito está forte, você pode até não sorrir o tempo todo, mas você aguenta, aguenta e aguenta. E por fim, descobri que é nessa hora, de fato, que o amor faz coisas extraordinárias quando queima o coração. E se o seu coração queimar, porque não incendiar o corpo inteiro?

1 de fevereiro de 2015

Madrinha de casamento

Posso contar uma experiência como madrinha? Ou coisas que eu nunca faria se fosse a noiva? Claro que posso. Ano passado eu fui gentilmente convidada pra ser uma madrinha. Não posso expressar o quanto me senti feliz. No entanto, ao longo dos meses eu percebi o quanto uma noiva pode ficar neurótica. Ela começou com aquela imensa palhaçada de escolher as cores dos vestidos das madrinhas e convidadas."Eu queria usar vermelho, mas ainda estou na dúvida", foi o que eu disse pra ela. E sabe o que ela disse?"Impossível!!! minha mãe vai usar vermelho. Você não entrou no facebook? Criei um grupo para todas combinarem a cor dos vestidos, pra não ter cor repetida." Fiz silêncio durante dois minutos, e disse:"alguém vai de cinza?" Fui de cinza pra expressar meu desgosto com o tamanho da breguice que é limitar seus convidados. Gafe total foi quando o pobre padrinho me passou um whatsapp dizendo que precisava combinar a gravata dele com o meu lindo e perfeito vestido cinza de protesto. Noivas!!!! Não façam isso!! É ridículo demais. Dias correram, meses passaram, e grupos foram criados no facebook para mais decisões irrelevantes, tais como, onde comeremos após o casamento?! Como assim?! Não houve festa. A primeira mensagem da noiva foi:"cada um paga o seu". Nesse mesmo dia eu tinha outro casamento pra comparecer, de um outro bom amigo, e como o dele haveria festa, eu iria no casamento da minha amiga, e até um pouco na recepção, mas sairia em seguida para o casamento dele, avisei por questões de fineza. Ela não gostou e no dia do casamento, cometeu a gafe final. Enquanto fui abraça- la, desejando coisas boas e felicidades, ele disse pra mim entre os dentes:"Vou matar você". Sabe, nem fiz questão de pisar na recepção. Peguei um táxi e me diverti muito entre amigos, na outra festa. Quem as noivas pensam que são? Seres supremos? "É o dia mais especial da minha vida". É mesmo? Então seja especial e permita que as pessoas também sejam. E se a sua madrinha, ou todas as madrinhas quiseram usar vermelho, não encha o saco!
Bjs bjs