23 de maio de 2015

[Ainda sinto o perfume dele- Abismo]

Ela deixou a mágica escorrer pelos dedos, feito rio de lágrimas. Sabe, acontece de nos esquecermos da mágica, e então quebramos os joelhos do coração. Acontece de estragarmos a mágica, e então ficamos loucos. E acontece de estarmos finalmente prontos pra escrever um novo encantamento. Para o bem, sempre, mas nem sempre um bom encantamento é interpretado bem. E a mágica, (qualquer que seja), sempre tem um preço. Ás vezes a gente tem que ter coragem de abrir e fechar portas; infelizmente ou felizmente, ou ambos. O fato é que mesmo tendo certo poder, ainda é o universo, a vida, Deus. Existe algo além de nós tomando certas decisões a nosso respeito. Se temos mesmo que aceitar isso? Acontece que não dá muito certo remar contra a maré, nem sempre. Quando já tomamos todas as decisões, quando já fizemos todos os encantamentos, quando já sonhamos com tudo, só resta nos dobrar com resiliência e aceitar o que o universo e o Dono dele nos oferecem...; um beco, que nunca saberemos se é ou não sem saída. Perguntaram pra ela, se ela tinha um sonho de consumo, ela estava parada, pensou em responder Louboutins, Ferragamos e caviar, mas nunca conseguia achar um sapato que tivesse o tamanho exato de seu ego e nenhum vestido lhe vestiria á altura diante do seu sonho de ter a coleção completa de livros de uma edição bem antiga da Jane Austen. E isso queria dizer que eles teriam que ser velhos, não a ponto de caírem aos pedaços, ela gostava de livros velhos. Sabia que eles têm um cheiro parecido com o da baunilha? Dizem que o papel envelhecido tem uma bactéria que faz com fique com esse cheiro tão amável. E ela era a última das pessoas que ia numa biblioteca pra alugar livro. Isso a lembrava de como manter as coisas num nível bem simples. O menos complicado não significava o mais fácil, só era simples. Era simples aceitar quem ela era, o que ela tinha e pra onde ela ia. E isso era tudo que ela precisava. Mas agora ela estava ali, com mágica por todos os cantos, mágica desperdiçada, com preços a serem pagos. E o amor custava mesmo caro, ainda mais quando não era correspondido. O que ela faria? O que fazer quando o preço de um amor custa muito de ódio, raiva e desentendimentos? Por que o amor causava aquilo? Por que uma coisa tão linda custava coisas tão feias? Coisas tão caras pra ela..., não dava pra lidar com aquilo, ela precisava ir embora. Ela viu o olhar dele ao fechar a porta. Era decepção. Era vergonha o que ela sentia. Toda vez que se aborrecia ela passava por esses estágios de não saber o que fazer, mas sempre se controlava, era comedida, perfeccionista, nunca havia deixado que um aborrecimento a deixasse naquele estado, mas naquele dia em específico, só conseguia agir por instinto, e num ataque passional, só deixou toda sua vida pra trás, como explicar isso? No entanto, a decepção dele não era maior que o desgosto dela. Ela suspirou. Será que ela era a única no mundo insatisfeita com tudo? Nada lhe agradava, detestava as festas, os vestidos a abominavam, as pérolas lhe davam ânsias. Sabia cozinhar para se virar, mas pra onde se virava existiam paspalhos sorrindo para agradar-lhe. Olhava seu anel de noivado agora. Também o detestava. Por fim olhou para si mesma e pra ele, e suspirou aborrecida. Se alguém te ama, não se ofereça como amigo. Não profane a mágica com um sentimento de desculpas. Apenas deixe a mágica acabar e a outra pessoa se esconder. Não exponha um coração que não é seu. E assim ela pensava estática, decidia coisas sobre seu futuro. Não sabia por que, só tinha que ir embora. Viver talvez, e esquecer aquilo, mas ele insistia e insistia, e ela não queria pensar num por que, só queria fazer tudo de modo simples,por Jesus, não era capaz de lidar com aquilo. Por fim, ela até que aguentou muito, até que o universo a encurralou, ou você se deixa morrer pela mão de todos eles ou renasce por si mesma. Ela escolheu renascer. Não gostava de ser mártir, era muito egoísta pra isso. Quem faz mágica, afinal, só enxerga seu próprio benefício. E ela já viveria com um preço a ser pago, era o bastante. Não precisava mais dele, não queria o amor dele, muito menos sua amizade, ela o amava sem gostar dele. Ela fechou os olhos e o olhou dentro de seu próprio coração, e o convidou a se retirar. Mais tarde ao sentir o perfume dele, ela nada sentiu... E assim acabou a mágica na terra. Ela já não acreditava mais.

Nenhum comentário: