4 de maio de 2015

Egoísta


Eu acordei, tomei café, estava ventando muito e minha mãe estava preocupada com o fio de alta tensão que estava dando curto por causa de uma bananeira, do outro lado da servidão. Ela gritou a vizinha do lado, o vizinho do outro... e eu sugeri que pudéssemos ligar pra agência de energia. Pois bem. Resolvido. Tentei trabalhar um pouco, mas não tive criatividade pra desenhar. Sentei no sofá da sala resignada com um livro nas mãos, aproveitando a luz do sol, fraquinha. Também não consegui ler mais do que quinze páginas. Fui pra cama e agarrei meu travesseiro e fiquei agarrada a ele por uns dez minutos, com os olhos arregalados. Acontece que acordei querendo ser muito egoísta, egoísta ao ponto de ser muito mundana. Me senti péssima por isso. Mas queria não ter que responder coisas nem ter que lidar com coisas, e ser malvada por completo por um momento, mas muito mais do que a educação que meus pais me deram, deve ser uma questão de caráter não conseguir fazer isso. Mas eu bem queria viu? Ser muito egoísta, mundana, malvada, e não me importar tanto, não querer tanto, e não me sentir mal por isso. Acontece que hoje eu nem estava afim de ouvir verdades, nem mentiras, nem desaforo de ninguém. Queria apenas ficar abraçada com meu travesseiro, com os olhos arregalados, me escondendo, sendo um pouco covarde, só pra variar. Mas não consigo ser condescendente. A verdade é que todo mundo as vezes quer sumir um pouco, fechar os olhos e se imaginar em outro lugar, em outras situações. No fim das contas eu me lembrei da minha mãe tentando alertar os vizinhos sobre o fio de alta tensão. Lição grátis do dia. Se ela tivesse sido egoísta, alguém poderia se machucar. Tá, tá, entendi, ser egoísta é feio, ser legal é bom.

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