20 de julho de 2015

Quimioterápico demais

Faziam quinze dias que eu não derramava uma lágrima. E graças a Deus elas vieram, eu estava sufocando dentro do meu otimismo. Sábado passado, minha médica aumentou o remédio pra náuseas intravenoso que é aplicado junto com a quimioterapia. Acho que nunca vou ficar pronta pra isso. E cá estou, escrevendo e chorando enquanto escrevo. Eu já tinha passado por tanta coisa antes do câncer. A vida inteira enfrentando minhas coisas difíceis (por que todos têm pedras nos sapatos ou pedras sendo jogadas nos seus telhados, é normal e saudável), tendo que encarar coisas na marra. Perdi a conta de quantas lágrimas como essas foram derramadas. Cheguei a questionar com o Santíssimo: "mas é isso mesmo? É desse jeito?". E por inúmeras vezes, em diversas situações, algumas pessoas nunca me deram escolha. Mas isso nem me importa, hoje as proporções são tão outras que hoje eu só queria meu cabelo de volta, minha geladeira, minha saúde, acordar me sentindo realmente bem disposta, sem remédio, apenas acordar, tomar banho e ir trabalhar, tomar um café, sentar na praça e ver o movimento. Era o que eu queria no último sábado enquanto eu vomitava pela enésima vez, e enquanto estava enfraquecida, eu fechei meus olhos chorando e imaginei outra situação, outra vida, outra minha vida, não a vida de outra pessoa, imaginei estar com meu namorado num lugar legal, pegando um sol, bebendo água gelada, sorrindo, com cabelo grudado no brilho labial de glitter. É difícil perder o chão tantas vezes, a gente fica imaginando se o poço é mesmo fundo, enquanto caímos. Não quero falar de Deus, muito embora a minha existência seja um traço da existência dele. Quero falar de todas as preces. Por que todo dia é uma oração. Uma oração que faço me olhando por dentro, num lugar onde ninguém mais me conhece e de onde tenho que tirar força pra terminar a minha jornada. Eu pensei que se eu morresse seria uma boa coisa pra deixar, minhas preces. Por que no final da vida, não importa mais nada, é só o que se leva. É a dracma que o barqueiro do outro mundo exige de nós. Uma prece ao divino pra que ele nos veja com misericórdia. Foi o que eu disse pra Deus quando eu me levantei do sofá pra ir ao banheiro no sábado: "Então, vamos acabar logo com isso. Deus me dá força. Tem misericórdia de mim". Eu não sei vocês, se estivessem no meu lugar, se chorariam, mas as vezes é tão solitário não chorar. A doença nos isola num mundo que só nós entendemos, e nós ficamos tentando agir como o resto da humanidade, sorrindo em meio a tudo. Mas tem dia, que realmente é um desafio de caráter. Por que você tem que se animar e tem que confortar quem te ama, por que eles sofrem vendo você tão degradado, acho que tenho mais compaixão por quem me ama do que por mim mesma, por que as vezes me pego estranhamente, encorajando a eles. Nessa hora eu viro pro canto da minha alma, e peço força dobrada, por mim e por quem olha pra mim. Por que um guerreio que se sente fraco diante da guerra, é realmente fraco. E é por isso que eu deixo aqui minha prece, pra toda mãe que carrega o filho doente, pra todo filho que precisa dar banho no seu pai, pra toda irmã que doa medula pra outra irmã, pra amiga que não sabe como ajudar, mas está lá, pro pai que só consegue chorar, pras avós que fizera promessas, pros enamorados que pegam no colo, pras tias que seguram as mãos. Vocês são a melhor oração que alguém como eu pode ter. Obrigada.

17 de julho de 2015

Depois dos Vinte e tantos


Com o passar dos anos a vida fica mais engraçada. Principalmente pra nós mulheres, descobrimos aos vinte e poucos ou aos trinta, que o corpo de quinze não estava preparado, então olhamos nosso corpo maduro de hoje, e bem, sabemos ser elogiadas por ele, porque deu um pouco de trabalho chegar até aqui rs, dietas, malhação, folhas de alface, cultos intermináveis a beleza, pedicure, manicure, horas fazendo o cabelo, maquiagem, aquele vestidinho, homens, valorizem isso rsrsrs. Descobrimos que estar apaixonada é algo maravilhoso, e que diferente dos 15, aos vinte e poucos ou aos trinta, sabemos o que esperar de uma paixão. Aos vinte poucos ou aos trinta, quase balzaquianas, descobrimos que ainda não somos aquilo que sonhamos ser quando tínhamos 17 anos, e talvez nem sejamos aos 40 e poucos, quase 50, mas estamos batalhando, muitas de nós ainda vai fazer uma faculdade, ainda vão se casar, ainda serão CEO de alguma corporação, ainda terão bebês fofos, ainda aprenderão a dirigir e ainda farão aulas de culinária em Paris. Descobrimos com o tempo, que zeros são bem vindos, e droga, nunca saberemos dizer se a esquerda ou a direita, e que tanto chocolate não pode fazer bem. E aprendemos que toda mulher tem celulite, apareceu depois dos quinze, e aos vinte e poucos quase trinta, diferente dos 19, nós não temos mais vergonha delas. Aos vinte e poucos, ou aos trinta, descobrimos que olhar a foto daquele ex e não sentir absolutamente nada, é perfeitamente normal, afinal, foi só uma paixão boba e ele era bonzinho, mas ser bonzinho não basta, tem que ser o Cara. Descobrimos que o amor é um Cara bem mais legal. Aos vinte e poucos ou aos trinta, amor ainda é uma coisa muita séria, tipo, se comprometer, e coisas sobre respeito, admiração e reconhecimento, mas que você só descobriu por que finalmente conheceu o homem certo. E descobrimos que aos vinte e poucos, perto dos trinta, que foi legal todos os homens que passaram pela sua vida, se recusarem ser o Cara. Por que  então esse Cara certo apareceu e fez toda essa loucura fazer sentido. Com quinze anos nós ouvimos das nossas tias ou das nossas irmãs mais velhas, que depois dos quinze, tudo passa muito mais rápido. E com vinte e poucos, ou aos trinta, descobrimos que elas tinham razão. Descobrimos aos vinte e poucos que nunca acharemos o shampoo ideal, e que nunca, realmente nunca, vamos curtir ficar "naqueles dias", e que diferente dos quinze, isso não é mais constrangedor, ou seja, já dá pra comprar absorvente na farmácia, no supermercado e na loja de conveniência, por que você já é uma mocinha, rs. E por fim, aos vinte e poucos, ou aos trinta, estamos com nosso gosto apurado e com a nossa vida em alta performance, sem medo, sem mimimi, o que tiver pra hoje, com uma xícara de café. Descobrimos que ter uma lingerie bonita não é tabu, e que independente dos ritos de beleza, tem algo sexy naquela marca de expressão. É como se ela te encarasse e dissesse que você fez direito, e que é por isso que ela está ali, ela não é um monstro, é só a vida te mostrando um caminho. E por que a vida nos oferece esse caminho, nós descobrimos que diferente dos quinze, onde tudo era um drama, a vida é mesmo engraçada, de vários jeitinhos engraçados. E que igualmente aos quinze, nós podemos aproveitar!