15 de junho de 2017

Lord Byron – Tremo Quando te Escrevo




Meu amor adorado: a tua querida cartinha ao chegar-me hoje às mãos veio dar-me o primeiro momento de alegria desde que partiste. O que eu sinto corresponde exactamente – ai de mim – aos sentimentos que expressas, mas é-me muito difícil responder na tua bela língua a essas doces expressões, que merecem uma resposta mais em actos do que em palavras. Espero, no entanto, que o teu coração seja capaz de sugerir tudo o que o meu gostaria de te dizer. Talvez que se te amasse menos não me custasse tanto exprimir o meu pensamento, pois tenho de vencer a dupla dificuldade de expor um sofrimento insuportável numa língua estranha. Desculpa os meus erros. Quanto mais bárbaro for o meu estilo, mais se assemelhará ao meu Destino longe de ti. Tu, o meu único e derradeiro amor – tu, minha única esperança – tu, que já me habituara a considerar só minha – partiste e eu fiquei sozinho e desesperado. Eis a nossa história em poucas palavras. É esta uma provação que suportaremos como outras suportámos, porque o amor nunca é feliz, mas devemos, tu e eu, sofrer mais ainda, pois tanto a tua situação como a minha são igualmente extraordinárias.

(…) Quando o Amor não é o Senhor de um coração, quando não cede tudo perante ele, quando não se lhe sacrifica tudo, então trata-se de Amizade, – de estima – de tudo o que tu quiseres, mas de Amor é que não.

(…) Antes de te conhecer estava sempre interessado em muitas mulheres, nunca numa só. Agora, que te amo, não existe nenhuma outra mulher no Mundo. Falas de lágrimas e da nossa desdita; o meu sofrimento é interior, não choro.

(…) Meu tesouro adorado – tremo enquanto te escrevo, como treme o mesmo doce bater de coração. Tenho milhares de coisas para te dizer e não sei como dizer-tas – um milhão de beijos para te dar, e, ai de mim, quantos suspiros! Ama-me – não como eu te amo, pois te sentirias muito infeliz; não me ames como eu mereço, pois não seria o bastante – ama-me como te ordena o coração. Não duvides de mim. Sou e serei sempre o teu mais terno amante.

Lord Byron, em Carta a Teresa de Guiccioli (1819).

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