28 de abril de 2015

Ternura


Ai a ternura... vi a ternura ontem no centro movimentado do Rio de Janeiro, e por que não? Uma cidade grande sempre tem de tudo. Eu estava parada no transito, foram os 30 segundos que fizeram do meu dia, um dia mais florido. E lá estavam, pai e filha num sorriso cúmplice. Não sei explicar, não sei se observo demais ou me distraio, mas acabo vendo essas coisas, essas coisas que caberiam numa fotografia em preto e branco e poderiam acabar numa exposição dentro de uma galeria famosa. Ela estava saindo da escola, o pai abriu o portão, ele estava de bicicleta, ela ainda sorria quando o pai colocou o capacete nela, ele não, ficou sério, a ternura é uma coisa muito séria, depois ele sorriu de novo e ela sorriu de volta, não vi ele a colocar na cadeirinha, o transito andou,o carro andou e eu fiquei pensando na ternura. Charles (Chaplin ) tinha razão quando disse que precisamos de mais bondade e ternura que de inteligência. Fico imaginando, se tivéssemos mais ternura, teríamos menos guerras, então os soldados não atirariam balas, atirariam flores, talvez balas de alcaçuz (que eu amo) e talvez nem existissem soldados. Fico imaginando os chefes de estado, todos numa bancada, arregaçando as mangas, e ao invés de lançarem bombas atômicas, fariam campeonatos de jogos de vídeo game (não violentos, talvez super Mario bros). Eu sempre falo de como a vida é corrida; e se tudo no mundo perdesse a capacidade de ser afetuoso? Não ia ser bonito, a fotografia em preto e branco a ser pendurada na galeria chique não ornaria bem. E de repente a gente vê uma demonstração de ternura no meio de tanta coisa, no meio do transito. Isso mexe comigo de um jeito inexplicável. De repente, deu vontade de estar ali, compartilhando dos sorrisos, me contentei em sorrir de onde eu estava observando, pra variar, distraída. Foi como no dia em que eu estava num restaurante, havia uma família inteira sentada na mesa ao lado da que eu estava, num momento, me distrai da minha conversa e lá estava eu observando bem na hora em que o casal se entreolhava, um senhor e uma senhora, de repente, daquela troca singela de olhares, surge o terno toque da mão dele na mão dela, ele segurou forte por alguns segundos, alguns bem poucos, e ali ficou, e lá estava eu sorrindo de novo, desejando ter aquilo, uma coisa de vida toda que eu pudesse dizer: “estamos juntos há 30 anos e lá vai fumaça”. E eu não escreveria esse texto se duvidasse da ternura de uma mãe por um filho, ou de uma esposa por um marido, de avó por um neto, de um irmão para outro, de filho pra pai, do beijo estalado, do abraço apertado, da cabeça no ombro, do lenço pras lágrimas, do amor incondicional, da vida compartilhada, dos laços que apertam a garganta num nó que as vezes... é bom, é bom ter um nó na garganta e um pingo de lágrima de emoção. E eu não sonharia tão alto com meu próprio paraíso se não acreditasse nisso tudo. A vida nos dá muitas oportunidades de demonstrar amor, e a ternura é como se fosse um tipo de “cuidar”, e eu sempre digo que o “cuidado” é o amor mudo. As vezes, gestos e sorrisos, olhos e olhares, falam mais alto do que uma declaração de amor declamada em um microfone pro mundo inteiro. Nem sempre saberemos que somos amados através de lindas palavras, nem todo mundo sabe dizer “eu te amo”, mas as vezes as atitudes gritam de uma forma extravagante, e só não enxerga a ternura quem não quer ver. Ontem eu vi, e vejo todo dia. Faz parte da vida ser amado um milhão vezes multiplicado por 63 (rsrsrs), e a ternura pode até vir da mesma pessoa todos os dias, o que importa é que ela nunca deixe de ser aquela coisa bonita que dá vontade de tirar uma foto em preto e branco e pendurar numa galeria de arte famosa. Boa noite, e bons sonhos...

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