No outono, sempre me lembra as folhas secas da praça da Liberdade (em Petrópolis), que ficam amareladas, como as folhas de um livro antigo. Minha melhor recordação do outono, foi a Páscoa do ano de 2001, não sei porque, não houve nenhum evento marcante naquela tarde, a não ser o meu primeiro contato com o frio. Aquela tarde foi a primeira vez que me dei conta, do quanto Petrópolis podia ser gelada. Deve ter sido, talvez, porque eu tenha deixado de ser criança, parado de correr no quintal. Não sei ao certo. Minha família é daquele jeito grande, que faz almoços e também distribui chocolates e sorrisos, abraços. E desde que eu soube do câncer, que eu teria que lutar pra viver, todas essas coisas ficaram maiores pra mim, de certa forma, muito mais evidentes do que na época em que eu era apenas uma menina, que corria no quintal da casa da avó materna. As vezes a gente custa a entender o quanto a vida é de certa forma, uma dádiva sem mensura. Porque quando você fecha os seus olhos, na incerteza se eles se abrirão no dia seguinte, é aí que você encontra todas as belezas do universo. Cada passo, cada gesto, cada conversa, tudo é muito importante. Talvez eu esteja passando pelo meu outono/ inverno pessoal. Dizem que pra semente brotar, ela precisa morrer. Passar por processos. A semente cai na terra, germina e algo bonito ressurge. Talvez seja por isso que eu tenha essa percepção especial sobre o frio do outono, porque talvez, no fundo, meu caminho seja aprender a ressurgir, brotar, florescer. Sabe, acho que todos deveríamos ter a consciência dessa possibilidade. De que nada é tão grave que não possa ser suportado, superado, ressurgido, ressuscitado. A premissa do universo ainda é a mesma de milhares de anos: Nada se perde, tudo se transforma.
P.s: Que venha o outono, com suas folhas amareladas, que lembram as páginas de um velho livro, nos ensinando que a vida sempre é reescrita de alguma forma.