Chove lá
fora. O barulho da chuva é tão refrescante quanto ela própria. Faz alguns meses
que entrei na chuva. E me molhei. Hoje tive a impressão ter visto minha tia que
mora em Manaus, ela está de férias na cidade e ainda não nos vimos, falta de
tempo suponho agora. Eu estava na fila do supermercado e a olhei, se era ela,
ela não me reconheceu. Ela sempre teve uma pose aristocrática e uma
sofisticação natural, uma sonora risada e um caloroso abraço de boas vindas. A
mulher que me deixou duvidosa no mercado estava mal tratada. Cabelos rudemente
lisos, raiz branca, de chinelos e roupas desgrenhadas. A fisionomia era da
minha tia, a mulher, no entanto me encarou sem me reconhecer, em partes por que
eu também perdi a minha pose aristocrática costumeira. Bom, os antigos sapatos
de salto foram substituídos por burlescas sandálias havaianas. A maquiagem hoje
se resume a base e rímel. Eu julgo já ter passado da zona de perigo, sou uma
sobrevivente. Não sobrou mais do que uma geleira no lugar do meu coração. Tenho
um novo amigo que observou preocupado (eu acho): “Você às vezes parece uma
pedra de gelo quando fica no seu stand by, senhora de gelo.” Enfim, o prelúdio
diz que vem mais chuva e que talvez eu deva me apaixonar. Muito embora eu não
suporte nem de perto a idéia, sinto falta de partilhar coisas, conversar,
cuidar. Existe um cara, ele é gentil e divertido. No fim das contas, minha
expectativa é só uma: Não me faça ficar aos pedaços novamente. E acho que isto
está bem escrito na minha testa. Cresci muito pra aprender que uma pessoa é
capaz de recomeçar tantas quantas vezes puder cair. Eu esgotei minha cota de
quedas. Uma coisa boa? Meus olhos voltaram a brilhar e ontem me peguei chorando
de emoção. Por quê? Achei que nunca mais iria conseguir sorrir do fundo do meu
coração. E eu estou sorrindo, faz alguns dois meses. E meus olhos brilham,
graças a Deus. O que mais uma garota poderia querer? Ferragamo &
Louboutin... Na seqüência, por favor. Não que eu seja fútil, mas, após meses de
reclusão dentro de mim mesma encabeçando profecias antigamente cantadas, agora
eu preciso mesmo reassumir a pose aristocrática e a sutileza vermelha dos fios
dos meus cabelos. Agora que voltei a gostar de ser eu, preciso fazer jus ao que
está por dentro. A leveza que eu sou junto com a paz que eu sinto e a força que
emano. Enfim, as pessoas passam a me reconhecer como realmente sou. Carne de
pescoço na doçura do meu sorriso. Quem souber me amar assim, não vai precisar
usar nem o laço nem a força pra me domar, arrisco a dizer, ainda que sem plena
certeza, que me darei por inteiro sem ao menos pestanejar. A chuva parou,
prenúncio do quem vem por aí? Ainda é Fevereiro. E ainda que eu venha evitando
contato social constante, estou aberta ao que vem pela frente. Que as novas
profecias me lancem de novo na alta roda, ou na roda de samba, contanto que eu
não permaneça no estado solido pra sempre e que o pra sempre, sempre acabe,
estarei feliz e todos ficarão satisfeitos por não se preocuparem mais com as
lágrimas que eu poderia derramar. A mulher no supermercado, provavelmente não
era minha tia aristocraticamente chique, se era, há algo de errado, disso eu
sei. Quanto ao homem gentil e engraçado, não alimento nada mais do que
sorrisos. Quanto ao restante, bom Fevereiro e ótema viajem!
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