Estrelas se multiplicavam no céu enquanto ela se perguntava: "E agora?" Em que poças poderia se afogar? E em qual delas se molharia mais?! Assim era miss Grey. Nunca via o céu azul. Ela caminhava sem expressão, corria sem suar. Os cabelos sempre bem arrumados, seus mundos sempre bem alinhados. Assim como seus sapatos engraxados, assim eram suas ideias. Opacas e práticas. Nenhuma bagunça, nenhum imprevisto, e nem era notada, passava despercebida pelas poças d'água. Sem sol, sem arco-íris, sem expressão facial sem quase nenhum sorriso e sem dúvida, nenhum sentimento. Assim era a pobre miss Grey, só conhecia o cinza e o preto, só conhecia pessoas vazias e noites sem graça. Então a pergunta voltava na mente enquanto as estrelas coloridas cintilavam ao redor: "E agora?" Perigosas portas se abriam em sua mente e estrelas cadendes cheias de cor dividiam suas ideias, elas invadiam o brilhante controle, transformando tudo em um precioso caos. Ela corria como o vento, fugia do acaso, o cinza era sóbrio e o preto era estável. Deus não aprovava cores. E ela só gritava por dentro: "E agora?", e toda noite o brilho colorido das estrelas vinham encher suas frágeis convicções, estrelas multicoloridas formavam uma fina camada de névoa, se miss Grey fechasse os olhos, poderia até voar. Apesar disso e por causa disso, sentada naquele banco de jardim, olhando a camada colorida, e o castelo, ela chorou. Pela enésima vez sentiu- se só. Pequenas estrelas escorreram dos seus olhos e caíram no chão fazendo brotar pequenas flores que ela não viu. Seus sonhos tão organizados também eram feios e estavam quebrados. Foi nessa hora que o suor molhou sua testa levemente pela primeira vez. Pequenas faíscas coloridas saiam do seu coração, ela estava cansada de dizer não. Afinal, ela tinha esperança e afinal não era tão cinza quanto se esperava, foi então que Miss Grey viu tudo ruir. Seu mundo tão equilibrado parou de girar. Ela tentou segurar com as mãos o que nem o coração podia prender, amarrou com cordas o que a tempestade podia levar. E fez uma prece. Mas já era tarde, e ela não sabia que pra brilhar era necessário primeiro, perder energia e assim como uma estrela cadente, seu pequeno universo ruia. Miss Grey que estava a beira do precipício, sentiu toda a vida em cor. Na perda, nos ganhos e em cada mudança, ela sentiu o amor. Então ela desistiu de lutar, abriu os braços e simplesmente voou. Miss Grey nunca mais foi a mesma. Estrelas nebulosas coloriam seu estado cinza, e ainda que tivesse medo, ainda que desconfiasse, mesmo assim ela ainda iria voar, mesmo com o coração partido. Na verdade ela bem sabia que se o coração não se partisse ela jamais teria visto o brilho colorido de tantas estrelas. E agora? Agora esperamos... se olharmos bem para o horizonte, um pouco além da montanha veremos que miss Grey está sentada, ela sorri, está esperando o que só uma miss Grey esperaria.
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