6 de outubro de 2017

Diamantes


1069 e- mail's não lidos na minha caixa de mensagens, no meio deles um aviso de obra vencida da biblioteca, uma notificação do twitter de que há um modelo italiano curtindo meu ''bom dia'', um aviso que minha conta da internet pode ser paga no débito automático, dois convites pra festa, minha tia me marcou em um comentário no facebook, meu pai criou um endereço de e-mail pra ele (milagre), tenho mais um seguidor no tumblr, e nossa, são 1069, não vou chegar ao fundo disso nem tão cedo. Está um frio por aqui, e de onde estou sentada eu estou sentindo uma brisa gelada no pé da minha orelha, deixei o vidro da janela da sala aberto... (Uma ligação interrompe minha produção textual). A voz do outro lado diz a plenos pulmões: "hehehe Juju!!! Está arrasando corações!" Então eu paro cinco segundos só pra ter certeza de que não matei ninguém, e respondo: "do que você está falando!!!??" Ouço risos do outro lado da linha. "Sabe o loirão? Ele se apaixonou por você, disse que você é linda, uma beldade, perguntou onde ele estava e por que não tinha te visto antes, e que quer que eu levante sua ficha, disse que vai te levar pra sair nessa sexta-feira!" Eu ri, muito, e alto. Homem forte, loiro, alto, com olhos verdes, vamos lá, bonito e turista. Apenas respondi: "nossa, sério? Não esperava, mas, diga que obrigada, tenho compromisso esse fim de semana... bjs". Pensei com os botões cromados do meu sobretudo: "levantar minha ficha?" Que tipo de "coisa" as pessoas pensam que somos? Não vou julgar o interesse do homem, afinal não o conheço e vou dar o benefício da dúvida, pode ter sido um interesse genuíno. Mas as vezes tenho medo de ser só bonita, tenho medo que não enxerguem nada além do meu corpo, somos mais que isso, somos mais do que cifras na carteira, somos mais do que os objetos que nos enfeitam, estamos além da maquiagem, dos brincos, dos sapatos, somos muito mais. Temos pensamentos revirando nossas mentes, temos mentes revirando nossos mundos e outros mundos dentro das nossas vidas. As vezes me pergunto se estou mesmo administrando tudo direito. As vezes é difícil fazer a coisa certa, manter o peito aberto, tomar decisões, organizar a vida pra não magoar ninguém, e infelizmente, não magoar ninguém, as vezes quer dizer que você vai se magoar... muito. Esse texto, como tantos outros que escrevo, não foi escrito em um só dia. E as memórias aqui, não são de um só dia também, são da semana toda. E pensando nisso, querendo ser atemporal, vou falar de "ontem", que pra você parecerá ontem, pra mim, bom, é uma memória que guardei, uma memória com uma percepção. O livro estava no meu colo, e eu deixei pequenas e teimosas lágrimas molhando meu rosto, a luz da pequena lâmpada acima de mim refletiu no meu anel e as pequenas pedrinhas refletiam um brilho azulado muito bonito, fiquei parada olhando, um pouco estática com meus pensamentos. Na minha cabeça um único pensamento formava um todo: "somos qualquer coisa loucos, e Deus nos brinda com pequenos milagres". Era isso que eu tinha em mente quando lia a frase que cavou uma cratera no meu coração. Me fez pensar: "o que são 1069 e-mails na noite? E o que significa um homem querer minha "ficha"?" Deus não precisou levantar minha ficha pra me amar, ele não precisou organizar minhas preces em pastas dentro da sua caixa de mensagens. Ele me viu, e me amou, ele me ouviu e embora eu não saiba com todo certeza se vai mesmo fazer algo a respeito, ele me ouviu, e isso tem bastado tanto pra me tirar lágrimas, quanto pra secá- las. A notícia de que ele não mudou não é novidade pra mim, mas fez toda diferença dentro de mim. Foi como colocar água em um solo muito muito seco, muito muito pisado, muito desgastado e infértil. As vezes, o que carregamos dentro do peito só brilha sob a luz certa. Assim como o anel que tenho, que brilhou como se fosse um diamante. Eu sei que não são diamantes. Mas o brilho dele me fez pensar em como eu sei que Deus nos olha, e sob a luz dele, somos diamantes. Sob a luz de um olhar certo, de um coração bom, nos tornamos bons, e não falo apenas de Deus, falo também de pessoas que enxergam pessoas. Então pensei em todas as vaidades que nos entregamos, e percebi, de novo, que quando a vida conta uma história, você tem que parar pra ouvir, por que é a mão de Deus escrevendo algo em você, pra você. Coisas podem acontecer por acaso e podem não significar nada e não trarão nem dor e nem ... nada, por que fomos nós que escolhemos de alguma forma. Mas, coisas acontecerão e vão nos mostrar o milagre que é sermos tão pequenos e tão falhos e mesmo assim tão queridos, tão inigualáveis, humanos. Mas no entanto, as vezes Deus nos mostra que temos tudo, e nos dá razões pra sermos gratos, e as vezes ele faz isso que fez comigo, ele revela o vazio que temos por trás de toda nossa determinação, ao ponto de sermos gratos por ele nos dar fé e paciência, para que chegue o dia que ele nos preencha. E eu sei que haverá um dia assim. Um dia em que estarei molhando meu rosto com outras emoções, olhando um anel com outra percepção. Afinal, sob a luz certa as pedrinhas de um anel comum podem ser extraordinárias. Segue uma Juliane simplesmente surpreendida com os pequenos milagres. E enquanto os grandes não chegam, vou voltar aos meus e-mails, pacientemente.


Olá,


meu nome é Juliane Schimel, e escrevi esse texto com uma cratera no peito, e espero construir fundações dentro dela. No mais, fale comigo pelo.. não, não me mandem e-mails essa semana, me mandem flores!


Bjs bjs

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