Ela deixou a mágica escorrer pelos dedos, feito rio de lágrimas. Sabe, acontece de nos esquecermos da mágica, e então quebramos os joelhos do coração. Acontece de estragarmos a mágica, e então ficamos loucos. E acontece de estarmos finalmente prontos pra escrever um novo encantamento. Para o bem, sempre, mas nem sempre um bom encantamento é interpretado bem. E a mágica, (qualquer que seja), sempre tem um preço. Ás vezes a gente tem que ter coragem de abrir e fechar portas; infelizmente ou felizmente, ou ambos. O fato é que mesmo tendo certo poder, ainda é o universo, a vida, Deus. Existe algo além de nós tomando certas decisões a nosso respeito. Se temos mesmo que aceitar isso? Acontece que não dá muito certo remar contra a maré, nem sempre. Quando já tomamos todas as decisões, quando já fizemos todos os encantamentos, quando já sonhamos com tudo, só resta nos dobrar com resiliência e aceitar o que o universo e o Dono dele nos oferecem...; um beco, que nunca saberemos se é ou não sem saída. Perguntaram pra ela, se ela tinha um sonho de consumo, ela estava parada, pensou em responder Louboutins, Ferragamos e caviar, mas nunca conseguia achar um sapato que tivesse o tamanho exato de seu ego e nenhum vestido lhe vestiria á altura diante do seu sonho de ter a coleção completa de livros de uma edição bem antiga da Jane Austen. E isso queria dizer que eles teriam que ser velhos, não a ponto de caírem aos pedaços, ela gostava de livros velhos. Sabia que eles têm um cheiro parecido com o da baunilha? Dizem que o papel envelhecido tem uma bactéria que faz com fique com esse cheiro tão amável. E ela era a última das pessoas que ia numa biblioteca pra alugar livro. Isso a lembrava de como manter as coisas num nível bem simples. O menos complicado não significava o mais fácil, só era simples. Era simples aceitar quem ela era, o que ela tinha e pra onde ela ia. E isso era tudo que ela precisava. Mas agora ela estava ali, com mágica por todos os cantos, mágica desperdiçada, com preços a serem pagos. E o amor custava mesmo caro, ainda mais quando não era correspondido. O que ela faria? O que fazer quando o preço de um amor custa muito de ódio, raiva e desentendimentos? Por que o amor causava aquilo? Por que uma coisa tão linda custava coisas tão feias? Coisas tão caras pra ela..., não dava pra lidar com aquilo, ela precisava ir embora. Ela viu o olhar dele ao fechar a porta. Era decepção. Era vergonha o que ela sentia. Toda vez que se aborrecia ela passava por esses estágios de não saber o que fazer, mas sempre se controlava, era comedida, perfeccionista, nunca havia deixado que um aborrecimento a deixasse naquele estado, mas naquele dia em específico, só conseguia agir por instinto, e num ataque passional, só deixou toda sua vida pra trás, como explicar isso? No entanto, a decepção dele não era maior que o desgosto dela. Ela suspirou. Será que ela era a única no mundo insatisfeita com tudo? Nada lhe agradava, detestava as festas, os vestidos a abominavam, as pérolas lhe davam ânsias. Sabia cozinhar para se virar, mas pra onde se virava existiam paspalhos sorrindo para agradar-lhe. Olhava seu anel de noivado agora. Também o detestava. Por fim olhou para si mesma e pra ele, e suspirou aborrecida. Se alguém te ama, não se ofereça como amigo. Não profane a mágica com um sentimento de desculpas. Apenas deixe a mágica acabar e a outra pessoa se esconder. Não exponha um coração que não é seu. E assim ela pensava estática, decidia coisas sobre seu futuro. Não sabia por que, só tinha que ir embora. Viver talvez, e esquecer aquilo, mas ele insistia e insistia, e ela não queria pensar num por que, só queria fazer tudo de modo simples,por Jesus, não era capaz de lidar com aquilo. Por fim, ela até que aguentou muito, até que o universo a encurralou, ou você se deixa morrer pela mão de todos eles ou renasce por si mesma. Ela escolheu renascer. Não gostava de ser mártir, era muito egoísta pra isso. Quem faz mágica, afinal, só enxerga seu próprio benefício. E ela já viveria com um preço a ser pago, era o bastante. Não precisava mais dele, não queria o amor dele, muito menos sua amizade, ela o amava sem gostar dele. Ela fechou os olhos e o olhou dentro de seu próprio coração, e o convidou a se retirar. Mais tarde ao sentir o perfume dele, ela nada sentiu... E assim acabou a mágica na terra. Ela já não acreditava mais.
23 de maio de 2015
20 de maio de 2015
Na luta contra a segregação
Da
série: [se você pudesse me ler]
(isso
é só uma coisa que eu queria dizer, como tantas outras que os outros dizem, se
você pudesse me ler...).
Vi um troço legal a internet hoje, de uma
iniciativa não governamental que visa conscientizar as pessoas perante o
governo, até postei mais cedo, para reivindicar os direitos das pessoas com
câncer, esse assunto não pode ficar batido assim como os outros assuntos
políticos que nos envolvem. É fácil assistir o jornal e ficar a par das
notícias, certo? Mas e se podemos fazer algo? Assinar uma petição via internet,
que seja?! Temos que pensar coletivo pra fazer valer o individual. Assim como
eu estava comentando com meu pai esses dias, eu acredito que as igrejas tinham
que ter um envolvimento mais efetivo dentro da comunidade que elas habitam,
sabe, não apenas portas abertas, mas sem paredes também. A vida de uma pessoa
pode mudar por causa de um trabalho de crochê, não só financeiramente, mas a
nível humano, de dignidade. Eu penso que eu acredito demais no ser humano e
peco por isso, enfim, acabo achando que as pessoas merecem credibilidade pelo
simples fato de que possuem inteligência, sentimentos também. E eu penso que
temos mesmo que mudar nossa visão de mundo. Deixar de olhar apenas nosso
quadrado, nosso “inBox”, e olhar ao redor, deixar de olhar apenas o “eu
existo”, o “eu sou isso ou aquilo” e ver que no mundo “existem” mais pessoas
que são “isso ou aquilo”. Dentro de uma família não existe só um pai, é um
nicho, pessoas possuem características diferentes e habitam no mesmo lugar, é
fantástico! Seria mais fantástico ainda se eu olhasse pro outro e visse as
qualidades dele somada ás minhas. Eu não sou expert, mas dá caldo! Eu sempre
acreditei que o diferente quando se junta, se torna extraordinário, talvez pelo
fato de não ser muito ortodoxa, ou de não aceitar bem o termo “diferenças”, não
adianta, não é uma coisa que eu consiga encaixar na minha lógica. E é nesse
ponto que eu quero chegar, a sociedade nos separa por classe, cor, função,
peso, estética, posição monetária, condição de sáude... de quem é esse poder e
porque? Não me enxergue mal, não sou socialista, (não que seja ruim ser
socialista, é que eu prefiro o capitalismo, aliás por questões muito egoístas,
eu admito. O quê? Não sou perfeita.), pelo contrário, mas não é uma questão de
senso comum? Talvez eu esteja errada, e até aceite correções. Por que as minhas
roupas, a minha cor e minha posição monetária, ou minha condição de saúde têm
que ditar minha posição na sociedade? E por que em nome de Deus, nós ainda
temos que ficar socando a cabeça na parede implorando pro governo dar uma
melhor condição de saúde e etc., pra população? Jesus, Maria, José e o camelo
se viraram muito bem numa estrebaria, mas hoje em dia a parada é outra. Certo? Os
nossos governantes e até nós mesmos, nos separamos em classes pra facilitar os
processos de “segregação” ou isso é só por maldade mesmo? E se você pensa que
não estou usando o termo certo pra isso, vamos ver o significado da palavra
segregar.
Segregação é o ato de segregar, de por de lado, de separar, isolar ou apartar.
Segregação é o processo de dissociação mediante o
qual indivíduos e grupos perdem o contato físico e social com outros indivíduos
e grupos. Essa separação ou distância social e física é oriunda de fatores
biológicos e sociais, como raça, riqueza, educação, religião, profissão,
nacionalidade etc.
Estamos de braços cruzados na luta contra o câncer,
contra a violência infantil, contra a pobreza, contra a corrupção, contra tudo.
E sabe por quê? Por que a novela das oito, diz que morar num barraco é legal.
Vou te explicar, lá é cenário, lá não mostra a falta de saneamento básico do
básico, do básico que é o direito a uma privada com descarga. Não quero ofender
o trabalho dos artistas, mas a arte imita a vida? Ontem na novela das nove, a
antagonista é pega desviando verbas de projetos na compra de materiais que
foram superfaturados, a outra que eu acho que deve ser uma protagonista
antagonizada, disse o seguinte: “O problema não é você desviar dinheiro, o problema
é pra onde você o mandou!” Eu não assisto, mas passei de relance nessa cena e
resolvi parar pra pensar: “Que país é esse?!”, onde na TV se fala de corrupção
e nada é feito, onde se fala do caos da saúde pública e nada é feito, onde
pessoas são privadas dos seus direitos, segregadas, e nada é feito, por mera
questão de status social, por dinheiro, por que você se acha bom de mais pra
protestar, porque vai deixar sua imagem queimada com “os mano” se você
reclamar? Você vai às urnas no dia da eleição e pronto, seu dever cívico está
feito, você trabalha e paga seus impostos, tá beleza. Sério mesmo? Enquanto a
crise não nos atingir é fácil cruzar os braços. Enquanto não somos nós os
doentes, é fácil virar a cara. Enquanto não somos nós os violentados,
assassinados, miseráveis e rejeitados, tudo ok. É por essas e outras que eu
gosto dos artistas, eles botam a cara no sol. E nós? Nós damos boa noite pro
William Boner e só? Olha, não precisa ir longe, na internet existem projetos
que você pode participar, do lado da sua casa existe uma escola pública, um
posto de saúde, não dói fazer uma visita pra quem precisa de um sorriso; já que
você não pode mudar uma lei sozinho, não custa nada fazer uma campanha de
doação de agasalhos e brinquedos, não machuca fazer um mutirão de reforma de
casas, no próprio bairro; não custa nada montar uma cooperativa que ajude
diversas pessoas na sustentabilidade delas, incluir as pessoas dentro de uma
sociedade justa não tem custo algum a não ser o custo pessoal, que é algo que
fazemos pelo bem coletivo. São as pequenas atitudes de amor e carinho que mudam
o mundo.
19 de maio de 2015
Câncer
(isso
é só uma coisa que eu queria dizer, como tantas outras que os outros dizem, se
você pudesse me ler...).
Como eu ia dizendo, o câncer rouba muita
coisa da gente, mas eu também sou trapaceira. Bom, eu acredito que ter qualquer
doença não seja fácil, já tive resfriados em que não aguentei sair da cama,
quem nunca? E sempre que ficamos doentes, bem, existe uma norma de conduta, se
não sabe o que dizer, é simples, não diga nada, aos que sabem, meu “muito
obrigada”. Desde meu diagnóstico eu passei por muitas fases... É difícil
enumerar por ordem o que o câncer fez comigo, então vou mencionar o que em mim
teve mais impacto. Minha primeira pior experiência foi o dia do primeiro
diagnóstico, quando me disseram que era só um cisto, quisto, seja lá o que
fosse, eu pensei, “a mensagem que meu corpo está me passando é de algo mais
grave, alguém, por favor?”. Me vi em pouco sem saída. No dia meu pai ficou tão
feliz que resolvemos sair pra comemorar, só um caroço pra ser retirado com uma
cirurgia. Mas eu não me convenci, eu sabia que não era só aquilo. Guardei
aquilo pra mim. Então o cirurgião me transferiu pra uma hematologista, (dois
santos na terra). Logo depois veio a biópsia, não consigo me lembrar na minha
vida, de um dia que tenha sido tão longo e cansativo como aquele, lembro-me de
ter chorado muito, lembro-me de não ter forças se quer pra andar, lembro-me de
três mãos apertando as minhas, a primeira da minha médica, que disse: “Ju, nós
não vamos desistir, vou conseguir sua biopsia pra hoje ainda, nem que eu
precise arrumar outro médico!”. A segunda mão foi a do médico que ela
“improvisou”, ele segurou minhas mãos com as duas dele e disse que tudo
correria bem. A terceira mão foi a do médico que ela tinha conversado pra fazer
minha biopsia, ele tinha ficado preso na serra por causa de um acidente, ele
pegou minhas mãos e disse: “Vamos lá!”. Durante certo tempo o câncer me roubou
a cor, eu era apenas branca como uma folha de papel, e frágil, e ficar acordada
durante uma cirurgia e saber que estão tirando uma parte sua pra te dar uma má
notícia, não é legal. Hoje eu olho a cicatriz na axila, e admito, me incomoda,
assim como as outras cicatrizes, a da biópsia da medula que é diferente da
cicatriz da axila, é só um ponto na minha lombar, ela me incomoda, é minha
lembrança de superação. Marcas de superação. Tem dias que eu preciso muito
chorar. O câncer me roubou a autonomia. Sabe, eu montei toda minha casinha dos
sonhos, morar sozinha é um barato! Andar de meias pela casa é um hobby pra mim,
entre outras coisas que fazemos quando estamos no nosso lar e nenhum um outro
lar é melhor que o seu, pois ele pertence a você. Aquele era meu lar, o lugar
onde eu finquei as raízes da Juliane. Atingi o auge máximo que uma pessoa
solteira ambiciona na sua autonomia, parei de lavar as roupas na lavanderia e
finalmente comprei minha própria máquina de lavar; 8kg, com economia de água,
chupa essa manga! A máquina só faltava falar! Mas como essa seria uma boa
história de superação se eu não tivesse o amor incomensurável da minha família?
Pusemos tudo num caminhão e lá se foi minha máquina pro sótão da casa da minha
avó. Sonhos em conserva e devidamente empacotados, estes ficaram pra depois. A
biópsia da medula. Putz, aquilo foi doloroso. Ficar na posição fetal sem ser um
feto, e sabendo que vão usar uma agulha e o caramba pra pegar um pedaço do seu
osso, não é legal. Eu estou magra, 10kg pra quem já era magra fazem muita
falta, ossos quando batem, doem hahhaha, o caso é que não achavam o meu osso!
Eu não gosto nem de lembrar, no lugar de dois furos, me fizeram cinco. E a
anestesia? Não me lembro dela ter feito muito efeito. De um a dez, a escala da
minha dor foi 9.9, o dez eu guardei pras inúmeras vezes em que ainda vão furar
meus braços com agulhas. Quando eu olhei pro médico lindo que fez a biópsia de
medula, eu estava chorando copiosamente, tive a impressão que ele queria me
pedir desculpas. Ele era lindo mesmo, moreno, nem tanto, barba por fazer, nem
tanto, alto, voz de locutor de rádio, (meu número kkk), eu chorando de dor, me
senti estúpida, não por ele ser lindo, mas por eu sentir dor. Nunca esperamos
que na vida, certa dor nos está de certa forma, de algum modo, em algum
momento, predestinada. É disso que eu me lembro de quando ao longo que desses
meses encontrei várias pessoas no meu caminho, umas realmente me apoiando,
outras apenas curiosas, umas outras educadas, umas poucas sem palavras, e
bem... Algumas, realmente idiotas. Ouvi certa vez o seguinte: “Essa doença é um
pecado que você cometeu. Peça perdão pra Deus que ele te cura”. Outra: “doenças
como a sua são as mágoas que você tem guardadas, você precisa liberar perdão”.
Como uma pessoa sensata lida com isso? De maneira sensata, eu suponho. Mas como
eu não tenho mais nada a perder e sou uma sensata com requintes de lunática, e
não me levem a mal, eu não esperei as frases serem terminadas, eu virei as
costas literalmente, por que eu sou muito capaz disso e fui viver, eu sou
desapegada demais as vezes. Já me taxaram de fria, mas sou pragmática. Pra que
discutir com alguém que não nos conhece? No final, acaba sendo sensato, que
sejam felizes com suas filosofias, a minha é, Deus não tem nada a ver com isso,
meu corpo de defeito, deu zica mesmo sabe, a medicina explica, estamos
tratando, se Deus quiser fazer algo através disso, não se preocupem, eu não
estou preocupada, ele é o dono da casa. Então, onde estávamos? Sim, ter um
câncer nível, estágio, fase QUATRO (4)
chame do que quiser, não é legal, assusta, é grave. É como estar na última fase
do seu jogo preferido e saber que não pode dar reset e recomeçar na primeira
fase, é como estar na tábua da beirada de um navio e lá em baixo o tubarão. Lidar
com a morte todo dia, saber que pode ter uma embolia pulmonar e simplesmente
deixar de existir, dá medo. As vezes eu tenho que chorar em silencio por causa
disso, por que a sensação que dá é que ninguém vai entender realmente o que eu
estou passando, que na verdade não é só um câncer, é a minha vida que eu estou
agarrando, mesmo com câncer. Então, o câncer é meu, é um problema que eu
agarrei com as minhas mãos e estou tentando resolver, embora seja plenamente
amada por isso e apesar disso, e não tenho vergonha disso. E por ele estar
dentro de mim, às vezes tudo se mistura. Perdi um amor, mas disso não vou
falar, não sei quando, mas teve um dia que desisti, só desisti. Desistir dos
cabelos. Não desisti, tenho que agradecer a Débora, mil vezes, por mil anos,
por ter feito esse corte no estilo daquela garota Hanna Montana rebelde kkkk,
qual é o nome dela? Nunca lembro, minha memória falha as vezes. Eu rezo pra não
ser dramática, quero ser prática, mas as vezes eu caio nesse pecado do drama, e
puxar seu cabelo e ver ele saindo na sua mão... não é legal. Eu achei que
estava preparada pra isso, afinal, não estava. Eu chorei sozinha com um tufo de
cabelos nas mãos por meia hora me imaginando feito um “E.T.” com a cabeça lisa como um ... como o
que? Eu não sei, não quis pensar muito, não quero pensar nisso, mas o cabelo,
justo o cabelo que tá bem ali onde eu penso.. quase na minha cara. Então a
gente tem que pensar que são coisas da vida, propósitos divinos e a nossa vida
parada, e questionamentos surgem de todos os cantos da alma, e eles quase
gritam: “Doente e careca, quem vai me querer?”,
“Vão me olhar com pena”, “Ou não vão nem olhar, vão evitar”, “Minha vida
está parada e agora?”, “qual será o meu futuro”. Guarda isso, vou dizer a
última coisa que mais me impactou e vou usar essa última questão só pra
explicar por que não é necessário me desejarem mais força. Fazer tomografia,
pet scan, exames de sangue toda semana, e os caramba, o procedimento mais
simples de todos, envolve agulhas e meus braços e mãos, tenho marcas, e se eu
não aguentar o tranco, bem, ultimamente eu choro. Chorar em publico não é
comigo, sou do tipo que aguenta sorrindo, mas tem hora que não dá. Mas “tá de
boa”. Quero falar da minha última quimioterapia, descer a serra de Petrópolis,
entrar num hospital e sentar numa maca sabendo que vão furar seu braço e depois
de tudo você ainda vai vomitar, não é legal. Dessa última vez me parece que
vomitei minha alma. Fiquei até com medo de dar descarga e deixar minha coragem
descer junto. Minha sensação essa semana quando minha mãe quis falar sobre a
próxima quimioterapia, foi de náuseas. Eu escondi a bolsa, os sapatos e as
roupas que usei naquele dia, por que parecia que eu estava sentindo o cheiro
dos remédios e depois eu tive vontade de sumir por alguns minutos. No dia da
quimioterapia eu fico mal, não dá pra andar, teve uma vez que vi as coisas em
dobro, meu pai me segurava pra eu entrar no carro, e ele disse assim: “Põe seu
pé dentro do carro filha!” e eu respondi rindo: “qual dos quatro?”, me pareceu
engraçado. E bem, a medicação é forte, minhas veias dos braços doem, então é aí
que eu penso: “Qual será meu futuro?”, é agora que você entende por que não
precisa me desejar nada... Eu já tenho as minhas respostas, estou plena.
Acredito que pelo menos uma vez na vida todos os seres humanos recebem a
oportunidade de reconhecerem que são plenos e isso só acontece em dois casos, o
primeiro, diante da vida e o segundo diante da morte. Eu recebi o dom da vida
ao nascer dos meus pais (faço questão de ressaltá- los, tudo que eu sou vem
deles, do dedão do meu pé até meu último fio de cabelo), usei esse tempo pra
crescer e aprender muitas coisas, eu aproveitei tudo ao meu redor (dentro dos
meus princípios, sem escrúpulos), e fui colocada plena diante da morte, mas eu
fui (sou) tão amada, que na verdade não me importaria morrer, e a morte (embora
me amedronte muito mais pelo desconhecido), eu acho que ela não suporta o amor,
por que é o amor que tem me sustentado e acho que ela também não suporta as
verdades de quando somos honestos (serei redundante e vou escrever errado
srsrrs), “conosco mesmos”. E eu nem deveria ser tão pretensiosa, isso pra
alguns deve ser até grosseiro da minha parte, mas bem... Estou plena em vida,
descobri que todas as respostas que eu preciso pra hoje, eu já tenho, que tudo
que eu sonhei, foi conquistado, que as pessoas que eu amo e que completam minha
vida, já estão ao meu lado, e o futuro... É agora, meu futuro é a minha vida e
a minha morte. E o câncer está indo embora dela, (segundo minha médica, Dra.
Márcia, linda e simpática). Então, o medo na verdade é uma coragem, e devo
apenas concluir que sou só uma pessoa com um sonho pra sonhar, e que se eu me
misturar na multidão (que Deus me permita), nem vão perceber que na verdade eu
sou uma trapaceira e enganei a morte.
Essa é a minha marca de superação.
7 de maio de 2015
Trecho de :[Alguém precisa acreditar no amor]
Ela tinha estilhaços nas mãos, olhava perplexa todo o sangue, que no entanto não vinha de suas mãos brancas e delicadas. O sangue vinha de seu peito. Suspirou fundo, o sangue vinha de seu peito vazio, pois ela acabara de rasgá- lo massacrando o próprio coração. Estava pálida quando caiu de joelhos e chorou. Ela tinha estilhaços nos olhos, seu coração descompassava, suas lágrimas vertidas eram puro sangue, o sangue contudo, não vinha própriamente de seus olhos, vinha de sua mente, pois ela estilhaçou a razão. Estava pálida, quando caiu de joelhos e sorriu.
Ela jamais precisaria amar com fragilidade outra vez, não seria mais amada por seus nobres e dignos sentimentos, pois o que era vridro se quebrou. E ele, ele jamais precisaria ter razão em tudo outra vez, não precisaria amar com desconfiança, nem pensar nas possibilidades, nas estatísticas. Pois o que era vidro.. .se quebrou. E quem pode, nas muitas cirandas da vida prever o amor? Quem ousa flagrar seus inícios, seus começos, remover suas pisadas, seus regressos? Logo o amor que dá meia volta, volta e meia... logo o amor que tu me tinhas, que era pouco, se acabou.
Ora queridos, nesse grande teatro que é a vida, ALGUÉM PRECISA ACREDITAR NO AMOR. Quer sejamos feitos de vidro, quer sejamos feitos de carne, alguém precisa se sacrificar. Pois o amor é o sobrevivente dos massacres que fazemos por querer alguém.
Ela jamais precisaria amar com fragilidade outra vez, não seria mais amada por seus nobres e dignos sentimentos, pois o que era vridro se quebrou. E ele, ele jamais precisaria ter razão em tudo outra vez, não precisaria amar com desconfiança, nem pensar nas possibilidades, nas estatísticas. Pois o que era vidro.. .se quebrou. E quem pode, nas muitas cirandas da vida prever o amor? Quem ousa flagrar seus inícios, seus começos, remover suas pisadas, seus regressos? Logo o amor que dá meia volta, volta e meia... logo o amor que tu me tinhas, que era pouco, se acabou.
Ora queridos, nesse grande teatro que é a vida, ALGUÉM PRECISA ACREDITAR NO AMOR. Quer sejamos feitos de vidro, quer sejamos feitos de carne, alguém precisa se sacrificar. Pois o amor é o sobrevivente dos massacres que fazemos por querer alguém.
[Trecho de: alguém precisa acreditar no amor]
As vezes eu tenho vontade de correr... mas não agora, agora estou sentada com as mãos nas têmporas tentando entender. E as vezes eu até corro. Corro como se o meu corpo estivesse se esvaziando de tudo. Como se a mente estivesse vazia. E depois, só depois... eu choro. Choro por não acreditar mais em milagres e por todas as vezes que eles ainda irão me acontecer sem que eu peça.
Você já existiu sem existir? Já ensinou alguém a amar? Já ouviu o ritmo da chuva? Já esperou sem cansar? Já sorriu de tristeza? Tomara que seja rico... de todas as belezas... por que quando a escuridão toma conta de alguém... coisa mais triste não há. E é bom, vez ou outra, respirar.
E quando você tem uma coisa boa.. o que você faz? Você acha melhor largar? Se eu soubesse antes o que eu sei agora... mesmo assim... eu teria me apaixonado. Mesmo com cicatrizes, com coisas pra pensar... mesmo tomando um ônibus em outra direção... mesmo assim... com toda minha respiração presa no meu choro, eu ainda assim me apaixonaria. Pergunte para sua alma... ouça o seu coração... mesmo se você já soubesse de tudo... você também não se apaixonaria? Eu ainda fecho os meus olhos pra acreditar no amor. Ainda guardei aquela foto. E é triste ter que admitir... mais ainda te desejo aqui.
Você me empurra... pra dentro de uma queda livre... e você me machuca... vejo seu rosto perfeito na escuridão. E você sorri, sem a mínima intenção de me salvar. Então eu acordo no meio da noite. Você apenas disse não. E olhe pra mim... estou acordada no mesmo pesadelo outra vez. Ainda acredito no amor... e ainda lamento por continuar a acreditar em todas as coisas tão lindas... acontece... alguém ter mais amor do que o coração pode guardar. Mas faço dessa fé um lugar de onde eu posso me esconder... por que querido .. alguém precisa acreditar no amor.
Você já existiu sem existir? Já ensinou alguém a amar? Já ouviu o ritmo da chuva? Já esperou sem cansar? Já sorriu de tristeza? Tomara que seja rico... de todas as belezas... por que quando a escuridão toma conta de alguém... coisa mais triste não há. E é bom, vez ou outra, respirar.
E quando você tem uma coisa boa.. o que você faz? Você acha melhor largar? Se eu soubesse antes o que eu sei agora... mesmo assim... eu teria me apaixonado. Mesmo com cicatrizes, com coisas pra pensar... mesmo tomando um ônibus em outra direção... mesmo assim... com toda minha respiração presa no meu choro, eu ainda assim me apaixonaria. Pergunte para sua alma... ouça o seu coração... mesmo se você já soubesse de tudo... você também não se apaixonaria? Eu ainda fecho os meus olhos pra acreditar no amor. Ainda guardei aquela foto. E é triste ter que admitir... mais ainda te desejo aqui.
Você me empurra... pra dentro de uma queda livre... e você me machuca... vejo seu rosto perfeito na escuridão. E você sorri, sem a mínima intenção de me salvar. Então eu acordo no meio da noite. Você apenas disse não. E olhe pra mim... estou acordada no mesmo pesadelo outra vez. Ainda acredito no amor... e ainda lamento por continuar a acreditar em todas as coisas tão lindas... acontece... alguém ter mais amor do que o coração pode guardar. Mas faço dessa fé um lugar de onde eu posso me esconder... por que querido .. alguém precisa acreditar no amor.
[Ainda sinto o perfume dele]
Tentei fugir de cheiros que lembrassem o seu, prendia a respiração. Mas é inútil fugir de alguma coisa quando ela está enraizada e nos corrói. Que saudade eu tenho de sentir teu cheiro, tocar teu rosto, e numa tentativa muda, tentar te fazer parecer menos cego... mais real. Menos sério, menos frio. Minha tentativa de te trazer pra superfície, foi o meu maior erro. Eu devia saber que você foi feito pra viver mergulhado. A superfície te sufoca, a verdade te enlouquece. E meus olhos tão certos, tentando descobrir no teu mundo um lugar seguro. Eu deveria saber que me chocaria contra as suas pedras. Mesmo sabendo o que não pode ser, mesmo sabendo que a água nunca pega fogo, acreditar ainda é possível pra mim. Isso ninguém me tira. Mesmo chocada contra as rochas e lutando pra não chorar toda vez que sinto o teu perfume. Mesmo que eu saiba que você e eu escolhemos caminhos opostos ou distintos. Eu ainda acredito em você, eu ainda sinto a tua distância tão presente dentro de mim e ainda sinto o teu perfume.
PETER VAN HOUTEN, Uma aflição imperial
Enquanto a maré banhava a areia da praia, o Homem das Tulipas Holandês contemplava o oceano: — Juntadora treplicadora envenenadora ocultadora reveladora. Repare nela, subindo e descendo, levando tudo consigo. — O que é? — Anna perguntou. — A água — respondeu o holandês. — Bem, e as horas.
Crônicas de um sábado sozinho
Eu me levantei muito cedo, antes do barulho dos carros, das pessoas com pressa. Olhei a rua vazia e andei devagar, saboreando uma paisagem difícil de ser vista às duas da tarde. Um milhão de coisas passaram na minha cabeça até que eu pudesse apreciar o primeiro gole do meu café. Uma delas foi a solidão. A solidão é sempre uma em um milhão. É como eu defino. A calçada vazia me deu mesmo a impressão de estar sozinha. Olhei pro céu em tempo de ver a casinha do João de barro em cima do poste. Nada demais eu diria... esse dia não guarda nenhuma surpresa. Mas quem pode dizer que não há beleza num dia normal? Um dia normal, um café normal, um bom dia ou dois. E a beleza está nos olhos de quem vê. O extraordinário mora no olhar simples e desinteressado. Por isso eu sempre brindo às coisas pequenas e simples. Por que essas coisas sempre possuem o poder mas grandes mudanças. Então... um brinde ás manhãs tranquilas e solitárias, ao João de barro que é um bichinho inteligente e a pessoa que fez meu dia especial com um abraço apenas. Por que a solidão até pode ser uma em um milhão mas as pessoas que quebram o ciclo solitário também são únicas.
Algum destino
Petrópolis, 26/02/2014, 4:40am, só esperando o sol nascer...
Sigo tentando entender por que estou acordada a essa hora. É cedo demais pra qualquer coisa, até para... a gente estava falando de quê mesmo? Ah sim! Estar acordada. Talvez eu até devesse ler o meu horóscopo... mas eu não acredito nessas coisas. Ano passado por exemplo, o horóscopo disse que: "você vai encontrar o grande amor da sua vida", pelo menos umas 17 vezes. Não encontrei nenhuma vez, quem dirá umas 17. Mas quanto ao planeta regente mercúrio sambar na minha desgraça, isso já não contesto. É um fato. Não, o texto de hoje não tem uma lição de moral (mentira), estou com muito sono pra formar um pensamento coeso. Isso é um blog que inicialmente tinha uma coluna diária, uma pauta coesa. Mas a coesão daqui acabou tem uns quatro meros meses. Não me façam perguntas difíceis, não vou responder o por que. Nas palavras do Sid da animação, Era do gelo: "nós somos uma família, dignidade não tem nada haver por aqui". Sim, isso é pra mostrar que eu também sei citar coisas. Niels Bohr por exemplo, disse: "a vida é tão séria que precisamos rir dela". Eu concordo com ambos. Um personagem de desenho e um físico ganhador de um prêmio Nobel podem saber muito sobre a vida. Eu sei que, não deveríamos ser obrigados a dar repostas que não temos e nem acordar tão cedo. Eu só tenho uma expressão pra definir isso: "é uma meleca". Posso dividir uma coisa íntima?- lógico que posso, é meu blog pombas! rsrsrs- lá vai: meu celular não escreve palavrão!! Quando eu quero por exemplo, escrever um palavrão de primeira linha ele sai assim: "Baralho!" Quando é uma coisa mais leve tipo cacete, ele escreve de cara,"Abaeté". E vocês devem estar se perguntando por que no mundo eu estou falando tanta asneira. Tudo se interliga. Pode parecer que não. Mas me deixa mostrar a lógica. Eu comecei o texto perguntando por que alguém acorda tão cedo, demorei exatos 30minutos pra escrever até aqui. Disse sobre ler o horóscopo e o fato de mercúrio sempre sambar sobre meu caos preexistente. Citei dois personagens que fazem todo sentido e acabei de falar sobre meu celular nunca escrever palavrão. Eu poderia dizer que o futuro de tudo é um copo de café, mas na verdade o que eu quis dizer com tudo, é que leva um tempo pra acordarmos pra vida, que nós não somos os únicos donos da verdade, e não somos obrigados a ter repostas, que a felicidade é uma escolha, assim como as pessoas com quem convivemos, que as vezes as coisas dão errado de uma maneira inexplicável e isso não é o fim do mundo,(nem culpa do mercúrio), por que as vezes uma coisa dando errado significa dez dando certo e as vezes nós só sabemos ficar com os nervos à flor da pele enquanto escrevemos ou falamos um palavrão de primeira ou terceira classe. Nessas horas, dou graças a Deus pelo meu celular manter a educação verbal que eu geralmente não tenho. Pode ser que eu precise aprender que leva mais ou menos uma hora pra achar a coesão dos meus fatos importantes da vida. Enquanto isso, vou acordando cedo, nada como a luz do dia pra clarear as ideias adormecidas.
Então, bom dia!
P.S.: Ah sim, saímos do recesso, quatro meses é tempo suficiente pra se recuperar de qualquer coisa.
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